Você.
Bem, eu
nunca fui muito boa com cartas ou ao menos contar uma história, mas dessa vez
irei me esforçar ao máximo. Então vamos começar do início.
Você, você chegou como o nascer do sol,
calmo, clareando minha vida aos poucos, mas quando chegou ao seu ápice,
iluminou todo o meu céu.
Num dia
normal, numa visita ao parque, nem lembro como ou quando, mas você já havia
virado meu amigo.
O que posso
fazer? Você sempre foi muito sociável.
Um dia... Essa informação é realmente muito
importante, porque foi em Um Dia que nós viramos amigos, foi em Um Dia que você
me fez ver o mundo de uma forma diferente, foi em Um Dia que nós discutimos,
foi em Um Dia que você me ligou pedindo ajuda... E foi em Um Dia que eu descobri
estar completamente apaixonada por você.
O engraçado
devia ser o fato que conseguia ser mais amiga de você, a outras pessoas com
quem tinha mais contato, era quase como se tudo já estivesse preparado, só me
esperando, só esperando nos
esperando.
Era tudo
tão... Diferente... Por mais que eu demonstrasse que não queria nem ao menos
falar com você, você continuava, parecia que isso só te incentivava mais.
E eu, eu me
lembro de cada conversa nossa, me lembro de cada momento, de cada olhar, cada
passo, de tudo. Até desde o início...
— Eu não entendo, por mais que eu
fale que não quero te ouvir, você continua a falar comigo... — desabafei. —
Afinal, o que te faz pensar que quero ser sua amiga? — ele sorriu, pra logo
depois me responder:
— Você está aqui... Isso já demonstra
que quer minha companhia, se não quisesse, não iria vir comigo. — o olhei
surpresa, ele então sorri pra mim e continua, zombeteiro. — Viu só como estou
certo?
— Hmpf.
Ah, como
você estava certo, o que me dava mais raiva era isso, você quase sempre estava certo. Era simplesmente incrível como alguém me
conhecia tão bem, pena que não foi bem o suficiente.
Esse fato
sempre me fazia remoer “e o que eu sei
sobre você?”, eu sabia que você mordia sua bochecha por dentro quando
estava nervoso, eu sabia que você batia o pé no chão quando tentava se lembrar
de alguma coisa, eu sabia que quando você tinha uma ideia nova – que na maioria
das vezes era louca – arregalava os olhos e ficava com um sorriso impossível de
se fechar.
Eu sabia
tanto e ao mesmo tempo nada e, isso com certeza me desanimava. Por que eu tinha
que saber de um fato importante, talvez um dos mais importantes de todos: Você também amava alguém... Assim como
eu te amava, você também amava alguém, você também tinha uma vida longe do
nosso mundo, daquele mundo que nós criávamos longe de tudo e de todos, com
barreiras enormes que só podiam ser desfeitas com o horário muito tarde.
Eu tinha
ficado tanto tempo dentro daquele mundo que fui esquecendo que, assim como eu,
você também tinha uma vida lá fora e, que chegaria o dia que você a traria para
o nosso mundo, para a nossa barreira.
Estava terminando de tomar meu
milk-shake, mais uma vez, você conseguiu me tirar de casa para fazer “alguma coisa mais social”, mas agora havia sido diferente, você estava
com um Q de empolgação a mais, ou eu que estava mais desanimada do que o
normal.
—... Ela é realmente linda. — ouvi
sua voz fazer um elogio a alguém indeterminado. Arquei a sobrancelha, e olhei
para os lados a procura da pessoa que recebeu o gracejo, sem resultado.
— Quem? — indaguei tirando a boca do
canudinho, visto que só havíamos nós e o atendente na sorveteria. “Quem vai a
sorveteria no dia 12 de agosto, sentindo esse frio?” eu havia feito a pergunta,
mais do que óbvia, “ué... Nós” ele me respondeu mais óbvio ainda.
— Você sabe... Ela... — respondeu
meio bobo, com um olhar perdido.
— Não, não sei quem é, além de achar
pouco provável que seja a atendente. — ele riu, não é como se isso não fosse
normal, mas ele riu de um jeito tão... Diferente.
— Quando você se apaixonar, também
irá acha-lo lindo. — me explicou. O olhei espantada, com os olhos arregalados,
então a compreensão veio.
Ele estava apaixonado...
A frase que
você havia me dito ficou rondando minha cabeça por dia e mais dias.
“Quando você se apaixonar, também irá acha-lo
lindo.”
Eu já havia
me apaixonado... Eu já o achava lindo... Era por você quem eu estava
apaixonada... Era você quem eu achava lindo, não só lindo, incrível, engraçado,
divertido, bom, e mais uma penca de adjetivos.
Mas como
sempre a compreensão só me veio tarde, então o que era “nosso mundo” virou “o
mundo dela”, aquele podia ter sido a primeira citação, mas com certeza não
tinha sido a última.
Tudo mudou
de uma hora pra outra... Aquele olhar determinado, alegre e animado que eu
costumava ver em você, foi sendo substituído por um mole, encantado, apaixonado, diversas vezes me perguntei
se também te olhava assim, era claro... que não.
Então eu a
conheci, a garota que conseguiu invadir nossa barreira, era quase que
impossível você não se apaixonar por ela, se existisse um lado oposto meu, com
certeza seria ela, animação, vivacidade, entusiasmo, ânimo e outros diversos
sinônimos a caracterizavam e me deixavam diferente dela.
Ela era a
pessoa perfeita pra você, ela era você só que na versão feminina, mas assim
como você ela também tinha sentimentos por outro, mas ao contrário de mim ou
até mesmo de você, os sentimentos dela tinham recíproca, e logo, dessa
recíproca veio um lindo casal.
E quando
essa notícia veio até mim, eu quase deixei um sorriso irônico escapar, mas consegui
o segurar, pena que minha língua pensava de forma diferente e, a todo momento
eu fazia uma referência ao novo casalzinho, sarcástica claro. Então daí veio
nossa primeira discussão e com essa discussão Um Dia sem te ver, não falei que
Um Dia seria importante pra história?
Então em
outro Um Dia, no qual nós ainda não estávamos nos falando, veio a ligação, um
telefonema completamente diferente de todos os outros que você já havia me
dado, um pedido de ajuda.
Um
desesperado pedido de ajuda, no qual tive que sair correndo de casa sem
conseguir dar uma boa explicação para os meus pais, que sabiam da nossa grande
amizade.
Bem...
Vejamos, quando se tem 18 anos e acabou de tirar sua carteira de motorista, as
coisas ficam um pouco mais difíceis, essas coisas podem ser classificadas como:
correr até sua casa no meio da noite numa cidade movimentada, força seu cérebro
de lembrar como se chega lá e ao mesmo tempo se concentrar no trânsito e ter um
cuidado maior para não passar num farol vermelho, assim não tendo risco de
ganhar uma multa e ficar sem carro.
Mas, por
sorte consegui fazer essas quatro coisas e chegar na sua casa, que para minha
surpresa estava aberta, mas a surpresas não pararam por aí, tive outras como:
Te encontrar
ao lado do telefone, largado no sofá, com um rosto de quem tinha chorado muito,
com uma expressão melancólica e dolorosa no rosto, rodeado por vômito.
Ver que você
estava morando sozinho e em vez de ligar para uma ambulância, havia ligado pra
mim.
E por último
mas não menos importante, eu tinha alguma coisa na minha cabeça falando que
isso havia acontecido por causa dela, e mesmo que eu quisesse apagar essa
hipótese da minha cabeça, eu não conseguia, e isso era uma das coisas que mais
me dava raiva.
Mas todas
essas questões que se formaram na minha cabeça foram afastadas quando eu ouvi
sua voz.
—M-me ajuda... Por favor... — uma súplica arrastada, com uma voz
um tanto fraca.
Naquela vez eu tive uma certeza na minha vida “Nunca mais eu
queria ouvir sua voz daquele jeito novamente”, e eu rezaria para que aquilo
nunca mais ocorresse.
Então com
todo esforço que tive consegui te colocar no banco de trás do carro e correr
para o hospital, aguentei o cheiro de vômito que estava me dando náuseas,
aguentei e segurei com toda a força as lágrimas que queriam cair, aguentei a
enorme vontade de gritar e te perguntar o porquê de você estar assim.... Eu
aguentei tudo.
Depois de te
levarem numa maca para uma sala no pronto socorro, eu liguei para os meus pais,
depois para os seus, os dois vieram correndo pro hospital, no qual nós passamos
a noite esperando notícias suas, sua mãe a todo momento me agradecia e eu a
falava que não precisava.
Até no outro
dia o médico nos liberar para ir te ver, eu ir vê-lo antes de todos, uma
serventia que seus pais abriram mão para mim, então assim que você me olhou
pela janela do quarto eu pude ver.... Eu pude ver em você aqueles olhos
novamente, aqueles olhos que você mostrava para ela, agora eles estavam na
minha direção, então depois ouvir aquelas mesmas palavras só que agora para
mim.
—...Você é realmente linda...— então foi minha vez de sorrir, havia
sido tão diferente de quando você se referiu a ela...
— Pena que é um pouco
tarde para você reparar nisso não é? — indaguei com um meio sorriso triste,
então as lágrimas voltaram, mas dessa vez eu havia as seguradas mais firme
ainda.
— Eu não te disse?
Quando você se apaixonar também irá acha-lo lindo... Acho que isso serviu mais
pra mim do que pra você não é? — me perguntou com um sorriso triste.
— É... — o
respondi.
No final eu fui como sua lua, surgindo calma, brilhante num
céu escuro, que na noite sempre te fazia companhia pra você não se sentir
sozinho, mas assim como a lua precisa do sol para ser iluminada, eu precisava
de você para me iluminar.
Assim como foi o meu “Um Dia” eu fui o seu “Um Dia”, mas como
todo Um Dia tem que acabar, assim como todo sol tem que se pôr, você se foi.
Mas com certeza deixou uma enorme marca em mim.
Bem... Eu nunca fui muito boa com cartas
ou ao menos contar uma história, mas dessa vez eu me esforcei ao máximo. Então
vamos finalizar com um fim.
Você, você chegou como o nascer do
sol, calmo, clareando minha vida aos poucos, mas quando chegou ao seu ápice,
iluminou todo o meu céu.
Você, você se foi como um pôr do sol,
rápido, escurecendo minha vida aos poucos, mas quando crepúsculo veio, deu a
chance da lua iluminar o meu céu.